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Wagner Soares de Lima

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Reflexões sobre trabalho, vocação, instituições, afetos e as travessias invisíveis que moldam quem somos. Aqui, escrevo com escuta, compartilho ideias com alma e transformo vivências em pensamento — para quem busca sentido, recomeço ou apenas companhia lúcida no caminho.

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O Espírito como Sopro: entre Heráclito, Hegel, Jesus e Freud

  • Foto do escritor: Wagner Soares de Lima
    Wagner Soares de Lima
  • 27 de mai.
  • 3 min de leitura
Convite ao ler

Você já sentiu que a vida está tentando te empurrar pra frente, mesmo quando tudo em você quer ficar onde está? Já teve a impressão de que existe uma força maior — histórica, psíquica, até espiritual — que atravessa os tempos, as culturas e nos arrasta pra mudanças inevitáveis?


Foi com essa sensação que escrevi o texto “O Espírito como Sopro: entre Heráclito, Hegel e o Tao”.


A proposta é simples e profunda: mostrar que, por trás das filosofias ocidentais e orientais, por trás de Hegel, Heráclito, do Tao, de Paulo, Freud e até Jesus, existe uma mesma ideia sussurrando — a de que a vida se transforma negando-se, elevando-se, reaprendendo a si mesma. Que mudar não é opção: é lei silenciosa do tempo.


O texto é ao mesmo tempo poético e explicativo. Um convite para pensar com mais calma sobre o que é mudança, espírito, contradição e transformação — não só no mundo, mas em nós mesmos.


Se você gosta de filosofia, espiritualidade, transição e aquela dose boa de provocação, vem ler.

Pode ser que esse sopro também esteja te chamando.


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O Espírito como Sopro: entre Heráclito, Hegel, Jesus e Freud


Há um vento que sopra onde quer, como quer. Invisível, mas infalível. Ele move as águas, revolve o tempo, desloca ideias. Hegel o chamou de Espírito, Heráclito de devir, Lao Tsé de Tao. Jesus o chamou de Sopro Santo, e alertou: “Todo pecado será perdoado, exceto a blasfêmia contra o Espírito”. O que isso significa? Que há uma força em nós — e fora de nós — que não tolera o abafamento da verdade em marcha.


Este Espírito não nasce pronto. Ele se forma caminhando, tropeçando em contradições, ferindo-se nas estruturas que um dia construiu, para então superá-las. É como disse o apóstolo Paulo: “Não vim revogar a lei, mas cumpri-la” — ou, como diria Hegel, "Aufhebung": negação, preservação e elevação num só movimento. O antigo não é simplesmente anulado, ele é consumado em um novo nível.


“O verdadeiro é o todo”, escreve Hegel, e o todo é apenas o resultado do caminho percorrido. O Tao já dizia que não há Caminho sem Caminhante nem Caminhante sem Caminhar — e Giddens, com sua fleuma sociológica, apenas confirmou que tudo é, ao mesmo tempo, estrutura, ação e relação, embora fingíssemos que dava pra separar.


O Espírito é o que insiste, mesmo quando tudo resiste. Quando os seres humanos recusam a mudança, o Espírito faz nascer as circunstâncias inevitáveis da transformação: uma crise, um colapso, um grito, uma geração.

Mas, ironicamente, mesmo quando se quer mudar, não é simples. Freud já advertia: “O que é inato já é. Não cabe suprimir; cabe sublimar.” Queremos ir adiante, mas há algo em nós que deseja desesperadamente permanecer sendo o que sempre foi. O Espírito nos arrasta, mas nossos pés se prendem às raízes.


É nesse ponto que Heráclito sussurra: “Nenhum homem entra duas vezes no mesmo rio, pois não é o mesmo rio, nem o mesmo homem.” E é verdade — mesmo quando negamos, nós já mudamos. O Espírito age assim: como um rio que nos molda, mesmo quando lutamos contra a corrente.


Ele não caminha em linha reta. Sua marcha não é crescimento contínuo, mas elevação descontínua. Se para subir for preciso primeiro descer, desce-se. Se para ir adiante for preciso desmontar, desmantela-se. Porque não há vaidade no Espírito — há direção.


Nietzsche o sentiu como um martelo. Jung o chamou de arquétipo da totalidade. Paulo disse que ele nos consola, mas também nos exorta. E Jesus o chamou de Espírito da Verdade, o que nos guia "a toda a verdade" — ainda que, às vezes, precisemos perder tudo o que sabíamos para enxergar o que sempre esteve ali.


No fundo, todas essas tradições — ocidentais e orientais — estão tentando traduzir o mesmo sopro: o da vida que se move ao negar-se e ao renovar-se. Às vezes com um estrondo. Outras, com um silêncio que implode por dentro. O Espírito não pede licença. Ele revela. Ele convoca. Ele transforma.


E quando ele passa, deixa em nós — e nas coisas — não a certeza, mas a exigência de se tornar.

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